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Ixh – Jorge Vásquez: Uma experiência de transformação e consciência no continente

headerOs esforços e recursos arrecadados durante a primeira fase da Campanha Cmpanha Inacianos pelo Haiti entre 2011 e 2013, deu à luz um projeto para fortalecer a rede de escolas Fé e Alegria  Haiti, como uma contribução concreta para dos colégios da Companhia de Jesus na América, para ajudar na melhoria da educação nesse país, e assim, da qualidade de vida de milhares de haitianos.

Vários profissionais de diferentes nacionalidades têm trabalhado em conjunto com a equipe no Haiti no desenvolvimento deste projeto, através de um acordo entre FLACSI e América Solidaria, uma organização internacional que incorpora vontades de profissionais em diversos projetos para a redução da pobreza ao longo do continente. Um desses profissionais é Jorge Vasquez (34), o sociólogo chileno que há dois anos “aterrizou” na ilha para enfrentar um novo desafio, e hoje está culminando este projeto de “Fortalecimento Institucional de Foi et Joie Haiti”.

Estivemos conversando com Jorge sobre sua vivência pessoal ao longo destes dois anos, sobre as dificuldades e os sucessos que têm estado presentes no caminho, suas reflexões, aprendizagens e convicções, o que revela que, sem dúvida, o projeto tem transcendido as expectativas profissionais, para também ser uma experiência transformadora nele e em cada pessoa que se tornou parte.

Jorge_1Quem é Jorge Vásquez e como chegou ao projeto?

Antes de se embarcar para o Haiti, Jorge trabalhou cerca de 7 anos na Direção Social do Hogar de Cristo, uma fundaçãode 70 anos fundada por San Alberto Hurtado (que era jesuíta chileno) trabalhando em programas de intervenção social para as pessoas em situação de pobreza e sem-teto, com uma forte ênfase em incidência pública.

Jorge soube da oportunidade de ir a trabalhar no Haiti a través da América Solidaria e, apesar estar participando em mesas de trabalho conjunto com pessoas referentes no desenvolvimento de pesquisas em Chile (tema do interesse dele), pensou que era uma oportunidade muito boa para entregar conhecimentos adquiridos nesses anos de experiência no Hogar, além de representar um enorme desafio quanto se enfrentar com novas coisas: trabalho de campo, uma nova cultura, trabalhar com um grupo de pessoas em um contexto sumamente distinto, onde os tempos são diferentes, o que significa levar as coisas com mais calma, mas ao mesmo tempo com a necessidade de fazê-las com um senso de urgência.

Como foi o processo de adaptação chegando ao Haiti?

“O que mais custou foi em parte, a língua, eu acho que foi um pouco complexo. Eu teve a oportunidade de passar um mês estudando Creole em Carice (noroeste do Haiti) o que acho foi muito bom. Poder conhecer um contexto rural apenas chegando ao Haiti, pe abrir a mente, e entender que o Haiti é muito mais do que Porto Príncipe, que já é bastante caótica. Você vê isso no tráfego, distâncias, como tudo funciona. No princípio é um pouco caótico, mas eventualmente você começa a encontrar certo ordem nesse caos, você começa a se acostumar, a evoluir com o processo. São detalhes que a gente va assimilando, que permite você se desenvolver em uma maneira melhor.

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Os momentos mais difíceis se tornam uma experiência transformadora, porque voce “evoliu processo evoluir”.

“O trato pessoal, a necessidade de conversar, de ter tempo para falar com outras pessoas, são  aspectos fundamentais no Haiti. Em outros ambientes de trabalho, as pessoas estão super enfocadas na efetividade, na eficácia do trabalho, onde cada um pode permanecer sentado 4 a 5 horas super concentrado, dando maior importância a terminar o trabalho do dia. Aqui no Haiti o aspecto relacional é super importante: ter tempo para conversar, o fato de que uma pessoa pare para falar com você 15 minutos quando você pergunta como está. Isso é uma grande mudança cultural, porque aí você vai percebendo a importância que tem dar esse tempo para conhecer e se entender uns aos outros.

Outra coisa que parecia muito difícil no começo, foi o ritmo em que as coisas funcionam com o Estado. As instituições têm outras maneiras de falar e trabalhar. Os processo de fortalecimento de Fé e Alegria são orientados a ter uma incidência na educação pública do Haiti, que opera a ritmos e tempos às vezes inimagináveis, mas é verdade, é uma situação frágil, vulnerável. Isso para mim era complexo.”

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No Haiti, o aspecto relacional é extremamente importante. Ter tempo para conversar, se conhecer e entender uns aos outros.

O que fez você pensar / saber que você seria capaz de permanecer no Haiti por um tempo?

“Venir a trabalhar no Haiti não é como mudar de emprego simplesmente, é uma mudança de vida e você  tem que estar disposto a fazer isso, a gerar uma mudança de vida, porque tudo em sua vida vai mudar. Eu acho que você percebe que você vai ficar aqui um tempo quando percebe exatamente isso, que definitivamente você não está aqui apenas para um emprego, senão que você está aqui basicamente para mudar uma experiência de vida. No processo você aprende, entrega e também recebe um lote. Foi um fundamental o suporte de Gabriel (ex-Diretor Nacional de Fé e Alegria Haiti), o apoio que deu FLACSI, América Solidária, os haitianos, todo mundo. Isso foi fundamental para pensar que, com este apoio, poderia alcançar a meta no trabalho”

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– Foto em destaque –

Qual foi sua labor concretamente?

Minha labor foi coordenar o departamento de planejamento e desenvolvimento de Fé e Alegria, que tinha como objetivo desenvolver  planejamento para o crescimento da rede de escolas, de uma forma em que os projetos a serem implementados para a instituição, respondessem a uma lógica na que esperava-se que todas as escolas funcionaram como uma rede, tendo um crescimento consistente com as capacidades da instituição, e com as expectativas que foram surgindo nesse processo. Para mim era super interesante tentar inverter certa lógica que existe na cooperação internacional em termos gerais, e se lembrar que estamos vindo para o Haiti terminando o processo de reconstrução após o terremoto do 2010.

Com os diretores e professores de escolas fizemos várias jornadas de trabalho de campo, fortalecendo a comunicação e  incentivando a participação em seu próprio processo de desenvolvimento, a partir de suas próprias necessidades de trabalho e de gestão. Combinamos a visão centralizada, que eu acho necessária, com a participação das equipes locais, o que é essencial. Havia muitos aspectos do processo de consolidação da rede a ser reforçados desde Pastoral, como o sentido, a identidade de Fé e Alegria e as características de uma escola desta instituição, entre outros.”

Melton -1579“Tentar inverter certa lógica que existe na cooperação quando o processo de reconstrução pós-terremoto está terminando”

Qual é o valor e a importância de que as escolas sejam Fé e Alegria?

“A noção de educação popular, no sentido de que queremos construir escolas formais, orientadas a grupos vulneráveis ​​da população, principalmente em contextos rurais e periféricos. Como exemplo está a escola em Canaan, que é um dos maiores centros de deslocados na América Latina, é aí onde  Fé e Alegria, quer chegar, para trabalhar com essas pessoas, em lugares onde não há serviços, onde não há escola nenhuma, nenhuma outra oferta de qualidade como a que trabalha  Fé e Alegria. O ano escolar que apenas passou, os alunos de noveno grau de Canaan passaram todos o exame de estado, que é uma grande conquista nessas condições realmente difíceis, onde não há sequer acesso à água potável. Outro componente importante é a importância do desenvolvimento comunitário, a importância do contexto para a proposta educativa, para o modelo de trabalho. A concepção da escola como um lugar que convoca, aberto à comunidade, que permite a participação e representa uma fonte de desenvolvimento para a comunidade.”

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“A escola como um lugar que convoca, aberto à comunidade, que permite a participação e gera desenvolvimento.”

Quais foram as conquistas do trabalho que você vivenciou durante estes dois ano?

“Há progressos significativos em termos da informação. Poder ter bancos de dados com informações dos professores atualizada, permitiu a equipe de Administração e Finanças elaborar os contratos dos professores, e, assim, fortalecer ainda mais o acordo que tinha sido assinado com o Estado haitiano em 2011, para que, esperemos, os professores possam receber seu salário por parte do Estado. Ter informação estratégica é uma conquista super importante, para que no momento em que as pessoas que têm de tomar decisões, possam ter sobre a mesa quais são as prioridades, as necessidades mais urgentes, e também algumas coisas não urgentes mas que são igualmente necessárias para reforçar escolas.

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“Clareza na informação para tomar decisões orientadas ao desenvolvimento sustentável “

A folha de rota roteiro (ferramenta de planejamento desenvolvida através do projeto) é fundamental, porque permite, por exemplo, dizer o que é necessário Canaan, uma das escolas com maiores necessidades em infra-estrutura. A folha de rota permitiu dizer: precisamos de um poço, acesso a água potável, salas de aula, muitas coisas, mas de todas,, esta é a principal, isto é o que nós definimos como crítico um estágio de desenvolvimento das escolas chamado inserção. Nós não queremos um laboratório de biologia, banheiros é o que precisamos neste momento.”

arregladas 10-0764A importância de saber e dizer “nós não queremos um laboratório de biologia, neste momento precisamos de banheiros”

“Em termos de serviços é o mesmo. Saber quais são as escolas onde as crianças recebem, ou não, um alimento diario (em muitos casos, a escola é o único lugar onde as crianças comem durante todo o dia), e saber quanto custa isso é super importante, para que no dia amanhã possamos desenvolver um projeto que permita que alguém interesado nisso, financie a alimentação das crianças de uma escola de Fé e Alegria Haiti. Em aspectos de desenvolvimento pedagógico, poder ter um diagnóstico dos professores e saber qual é o seu nível de escolaridade, idade, experiência de trabalho, processo que adiantamos desde o escritório de planejamento, permite que amanhã, desenhar módulos formação pensados e orientados a diferentes grupos de professores com diferentes necessidades de formação. Difere a formação que precisa receber um professor que tem uma formação de nível normal de escola ou faculdade, da que precisa aquele que não tenham concluído o ensino secundário e, talvez, tem 10 anos de trabalho na escola. Então, dessa maneira, os processos de formação de professores podem ser diferenciados de acordo com as necessidades observadas nas escolas.

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“Ter um diagnóstico dos professores sobre sua formação, experiência de trabalho, para pensar sobre o treinamento satisfazendo as diferentes necessidades de formação”

Este projeto foi realizado em um período fundamental pós-terremoto muito delicado, que eu chamo o momento de emergência, em que muito poucas pessoas realmente sabem o que fazer, de fato, acho que ninguém tem absoluta clareza do que precisa ser feito em uma crise humanitária, como a que o Haiti viveu. Em uma situação de emergência são as coisas básicas que têm a hierarquia na tomada de decisões. As pessoas não têm comida, as pessoas não têm onde morar. Ponto. E aí é mais difícil pensar em planejamento de longo prazo, porque o que você precisa é resolver as coisas de contingência, do dia a dia, que são super importantes. Após esse processo é conseguido curar, ou que deixe de ser um período de emergência para marcar a agenda pública, aí tem a possibilidade de pensar como podemos elaborar um modelo de desenvolvimento um pouco mais orgânico, onde existam momentos e tempos de reflexão, para tomar decisões e planejamento.”

“Como estas conquistas representam uma contribuição à educação no Haiti?

“A proposta de planejamento que foi desenvolvida com Fé e Alegria, a “folha de rota”, é uma ferramenta prática e simples para que o Estado Haiti amanhã, veja e conheça essa experiência, e, talvez, para possa desenvolver algo semelhante nas escolas públicas. Diz-se que mais do 80% das escolas no Haiti são privadas, mas ninguém sabe ao certo qual é o nível de qualidade do ensino que entregam, e quais são suas características. A fim de gerar um processo de melhoria contínua nos aspectos de qualidade, é necessário conhecer as características que têm escolas com as quais você trabalha.  Nesse sentido, o projeto é uma entrada de levar em consideração ao desenvolver um planejamento geral para o nível educacional nas escolas, tanto públicas como privadas, que existem no Haiti.

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Qual foi o seu momento mais feliz durante este período?

“Existem vários, mas um deles foi quando fomos para visitar as escolas para divulgar a campanha Inacianos pel o Haiti. Eu levei um pequeno projetor operado com bateria, para mostrar aos professores fotos e vídeos do que estava sendo feito na campanha, e assim eles saber da enorme rede de pessoas, jovens, professores e escolas que,ao longo de toda a América Latina, estavam pensando neles e no desenvolvimento das escolas de Fé e Alegria Haiti. Ver seus olhos e seus rostos enquanto eles observavam os vídeos e fotos foi incrível, foi realmente bonito. Era saber que estavamos gerando uma consciência em diferentes níveis e dimensões de uma maneira espetacular. Uma consciência na América Latina do que está acontecendo no Haiti, e nos professores haitianos desta enorme rede de solidariedade. É o que eu chamo de “retorno”, para realmente torná-los parte também. Não é só ir para as escolas, tirar fotos e pedir entrevistas (que acontece muito aqui para o desenvolvimento de outros projetos de outras organizações), mas explicar o fim do que está sendo feito, pois eles também se esforçam e colaboram.

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Quais são seus planos a partir de agora?

“Eu adoraria permanecer conectado  com Foi et Joie Haiti. Ainda há muitas coisas para fazer, e a relação que se desenvolve com o Haiti é uma relação complexa, deixar essa relação ir é difícil. Eu acharia interessante pensar como a experiência do trabalho destes dois anos com Foi et Joie Haiti com a folha de rota, poderia se levar a outros contextos, outros lugares, compartilhar e continuar desenvolvendo, e aproveitar esta como uma experiência positiva, na qual se aprende muito, se tem várias conquistas e aprendizagens. Talvez em outros contextos onde Fé e Alegria está começando, apenas entrando nas comunidades e desenvolvendo projetos educacionais, pode ser uma ferramenta útil ao nível federal.

DSC03104Gostaria levar esta experiência a outros lugares para compartilhar e continuar seu desenvolvimento. Talvez possa ser uma ferramenta útil ao nível federativo em Fé e Alegria “.

Fonte: Comunicações Inacianos pelo Haiti